9 de junho de 2018

Coluna Liberal - Jornal Diário dos Açores 08 de Junho de 2018


Na decorrência da minha coluna do passado mês importa trazer ainda à colação alguns aspetos que, por manifesta falta de espaço na coluna e opção de agilização, preferi tratar em dois tempos diferentes, até mesmo porque sendo uma só moeda, como todas, tem duas faces.

Num passado ainda recente e nesta mesma coluna ensaiei uma teoria sobre o efeito nefasto que os sistemas de incentivos ao investimento e à perca de rendimento têm na promoção de desigualdades sociais, exclusão social e manifesta perversidade na distribuição dos parcos recursos de um Estado/Região à beira do colapso financeiro.
Comecemos então por tratar a questão da pobreza que tanto nos preocupa e que faz correr tinta quase todas as semanas nos nossos jornais e anda correndo as bocas do mundo onde quer que seja que alguém escreva umas frases com ou sem sentido.

A pobreza estrutural, no inico da crise económica decorrente da crise financeira de 2008 (há dez anos) atingia  40% dos Portugueses. Entretanto a conjuntura  potenciou o crescimento desse número uma vez que, ninguém tem duvidas sobre isso, as crises permitem um aumento da riqueza nos mais ricos e uma pobreza conjuntural que tende a tornar-se estrutural. Na verdade, a conjuntura difícil das praças financeiras esgotadas pela avidez dos estados sobre endividados retira da economia e principalmente das economias mais frágeis grande parte dos recursos de que esta carece transformando remediados, pequenos empresários e pequenas empresas em núcleos de pobreza que muito dificilmente conseguem ultrapassar essa situação. Associa-se a esse desastre o  tipo de regulação que existe sobre o sector bancário que ajuda ainda menos.

Nos jornais desta semana podia ler-se, da tutela as áreas sociais, um apelo ao envolvimento das comunidades na luta contra a pobreza e exclusão social. A pobreza só se trava com desenvolvimento económico e esse só se faz com investimento reprodutivo.
No mesmo jornal, em letras gordas, lia-se que a associação dos construtores estava contra a contratação da construção de uma estrada a uma empresa espanhola. Ora aí está uma boa análise que deveríamos fazer. Quanto dos 300.000.000 (trezentos milhões de euros) gastos (dizer investimos seria um eufemismo) nas designadas SCUT ficaram na nossa paupérrima economia? Eu arrisco a dizer que ficaram apenas dividas para pagar, empresas em situação difícil senão mesmo em fal~encia técnica. Muitos dos que trabalharam para a mega obra do regime, acabaram a mesma e fecharam as portas.
Mesmo para os mais “keynesianistas” um gasto mesmo que desnecessário até pode ser considerado um investimento. Importa para isso que esse gasto potencie multiplicação e circulação de capital com valor acrescentado. Neste particular tem a AICOPA razão, importa que a região salvaguarde que o dinheiro gasto ou investido (depende da circunstância) será reproduzido internamente e não exportado à velocidade da fibra optica para um destino qualquer onde se irá reproduzir em benefício de outros.
Este tipo de protecionismo encapotado pode parecer um contra senso vindo de quem se anuncia como um liberal. No entanto, ele não colide , de forma alguma com  o pensamento liberal, bem pelo contrário, não se quer impossibilitar seja quem for de concorrer,  o que se pretende é promover as obras de forma a que todos possam concorrer o que é bem diferente.
No entanto, sabemos nós e sabe quem tutela as finanças da Região, que o problema não tem nada a ver com a escolha de quem constrói mas sim com a escolha de quem financia a construção.
Na verdade, o regime de construção com recurso a Parcerias Público Privadas (PPP) transfere para  o parceiro privado a responsabilidade de obter o financiamento enquanto o parceiro público fica obrigado apenas a  uma renda periódica que no final monta ao investimento, juros e restantes regras que podem englobar, segurança, manutenção e gestão.
A região não tem capacidade de endividamento pois apesar do regate de que foi alvo em agosto de 2012, a gestão perdulária dos últimos 6 anos, o enorme sorvedouro de recursos financeiros que constitui o Sector Empresarial Publico Regional (SPER) e a estrutural desorçamentação do sector da saúde, esgotaram todas as fontes de financiamento.

O dinheiro publico, numa região como a nossa, que enferma de uma enorme escassez de recursos endógenos e  com muito parcos acessos a financiamento externo, deve ser usado como um chuveiro não com um jato se água. Só assim se poderá combater a pobreza e a exclusão social, com um estado forte nas suas principais funções e quase ausente naquilo que os mercados e os privados podem resolver.


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