16 de novembro de 2015

Centrar à esquerda?

Centrar à esquerda?
Nada será como dantes neste Portugal “assaltado” pela esquerda supostamente moderada com o apoio da esquerda radical. Acentuam-se as clivagens entre esquerda e direita, definem-se as opções ideológicas e a política, na sua essência, toma parte do lugar que havia sido ocupado pelos tecnocratas das teorias económicas que se resumirão, num futuro próximo, à discussão de Keynes versus Hayek.
Se alguma coisa pode trazer de bom ao país a situação criada por António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa, essa coisa é a definição clara da existência de dois blocos ideológicos distintos e que até agora se confundiam em 3,  numa coisa chamada de” grande centro” ou “centrão” e dois extremos. Ao invés do que dizem alguns, não se quebrou o arco da governabilidade nem sequer se o alargou, ainda. Na verdade, nem o Bloco de Esquerda nem o PCP farão parte do governo de António Costa  e os acordos entre eles firmados são, para usar uma expressão da moda, “poucochinho”.  Como tal, continuarão de fora do conjunto de partidos que fazem parte desse grupo dos partidos do governo. No entanto, parece claro, que ficarão mais próximos dessa possibilidade do que estavam antes de 4 de Outubro último.
O facto de podermos estar perante uma definição, ou clarificação consoante se quiser adjetivar, das opções ideológicas do espectro politico partidário nacional e de termos pela frente um cenário de bipolarização é, talvez, o resultado mais marcante e mais importante de todo este processo que agora se iniciou e lançará o país numa fase que não mais será igual ao passado recente. PSD e CDS serão, a curto prazo, um só bloco de direita com opções claras e inequivocamente coincidentes. Um bloco onde, certamente, existirão uns mais conservadores e outros mais liberais mas todos à direita do grande “centrão” ou pouco à semelhança do que acontece com o Partido Republicano nos Estados Unidos da América.
 À esquerda teremos outro bloco constituído pelo PS o PCP e o BE, em que o PS deverá deixar de parte os seus complexos de esquerda e assumirá essa sua condição sem peias. Também nesse bloco, como na américa com o Partido Democrata, existirão tendências mais radicais e outras mais moderadas mas todas assumidamente socialistas.
Por cá (Açores) em período de preparação de um ano eleitoral de relevante importância para os partidos que se apresentarão ao eleitorado em outubro próximo para eleger o novo parlamento dos Açores, essa clarificação parece-me estar aquém do que seria expectável passados 4 anos de oposição frouxa e sensaborona. O PS vai gerindo a sua clientela política a seu belo prazer enquanto o PSD, maior partido da oposição, vai prometendo mais do mesmo, ou seja vai se centrando na esquerda do partido socialista e prometendo resolver todos os problemas como se isso fosse possível com uma qualquer varinha de condão e “pós de perlimpimpim”. Mas do ponto de vista económico ambos são muito mais Keynesianos  do que liberais e ambos elegem, sem o expressarem claramente, as liberdades de comércio e de  iniciativa como coisas perniciosas que têm que ser controladas e muito bem reguladas  pelo poder regional.

Se dúvidas existissem, o PSD encarregou-se de as dissipar e anunciou esta semana pela boca  de Joel Neto, o seu coordenador para o programa do Governo, que o partido  “terá programa de centro-esquerda pela igualdade” e que esta foi uma condição imposta por esse grupo de trabalho a Duarte Freitas. Nessa mesma entrevista há uma demarcação da condição do político que é altamente demagógica e perniciosa. Quando alguém pretende fazer política, estar no governo da polis e nega essa condição, não é intelectualmente honesto.

Mesmo dentro do CDS muitos há que, em matéria de política económica, estão muito mais à esquerda do “centrão” do que à sua direita e que estão muito mais próximos de caírem nas tentações ideológicas da esquerda Keinesiana do que na desmistificação do ser-se conservador no que é bom e liberal naquilo que é necessário ser-se liberal.
Esperam-se dias animados na vida política regional, e a história de 1996 pode repetir-se 20 anos depois mas com protagonistas diferentes ou talvez não.

Uma coisa é certa, César esta definitivamente na República, o mesmo César que alcançou o poder nos Açores com o apoio da direita mais conservadora Açoriana, alcançou-o na republica ao lado da esquerda trotskista e marxista-Leninista. Essa direita Açoriana precisa reorganizar-se, recentrar-se e concentrar-se nas suas opções políticas e ideológicas sob pena de se dissolver em projetos que mais tarde a podem trair. 

Diário dos Açores 2015.11.16

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