10 de novembro de 2010

R.I.P Dr. Fernando Aires.


1928-2010
Nesta hora em que não sei o que dizer por falta de habilidade com as palavras e porque a emoção me tolhe a força dos dedos e da mente, ficam as palavras do Daniel de Sá.

Hoje a cidade amanheceu cinzenta. É seu velho hábito vestir esse hábito de quase penumbra. Que incomoda. Que amolece o gosto pela vida. Que nos tira a vontade de nos levantarmos. Hoje, a cidade voltou a vestir os seus andrajos mais frequentes, como viúva pobre em permanente aliviar luto. E não me apeteceu levantar. Na minha “Ilha de Nunca Mais” não voltarei a erguer-me. O tempo… o tempo, para mim, agora já “era uma vez”.


A notícia de que não me apeteceu levantar acinzentou de quase trevas pedacinhos de mundo aqui e acolá. Escureceu a claridade na Ponta da Galera. Arrefeceu o vento nordeste na Maia. Gelou corações em Providence ou em Lisboa, em New Bedford ou em Toronto, na Califórnia ou em Santa Catarina. Estranha sensação, esta, a de saber que eu, “uma unidade de sentimentos/ sensações”, fazia parte dos sentimentos bons de tantos amigos.


Se for possível farei o possível para estar com ela, mas a Linda ouvirá sozinha a nossa música. Como eu amei esta Mulher! Como ela conseguiu ser o braço que me levantou tantas vezes em manhãs em que não me apeteceu levantar! Mas, hoje, não. Hoje tornou-se no nunca mais. Talvez tentem aliviar este insidioso luto cinzento com um cheiro a flores.


Hoje não me levantei. Não volto a levantar-me, já disse. Não me cansei da vida, nem da família, nem dos amigos. Nem sequer me cansei de mim. Mas tinha de haver este dia. O dia de nunca mais.

Até qualquer dia, companheiros.

Maia, 9 de Novembro de 2010

(Daniel de Sá)

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