29 de dezembro de 2020

Mini entrevista ao Jornal Diário Insular edição de 2020.12.25

 

1DI- Os Açores entraram num ciclo novo de governação, após cerca de um quarto de século de governo do PS. O que devem os açorianos exigir deste novo ciclo?

 

NB- Os Açoreanos devem fazer um exame profundo sobre as suas opções politico-eleitorais e devem exigir do governo e da maioria parlamentar que o suporta (PSD-CDS-PPM) soluções para as questões que não têm sido resolvidas e que, algumas, permanecem desde Os primórdios da autonomia constitucional. A sociedade açoriana é pouco exigente com os governantes e com os parlamentares. Há uma carestia de literacia política na região, até mesmo na classe dirigente da administração publica e ao nível dos parlamentares eleitos o que no fundo representa e espelha a sociedade. Uma sociedade que vê na política algo pernicioso e que opta por escolhas clubísticas, não pode esperar grandes mudanças. Felizmente, o quadro parlamentar atual irá permitir um escrutínio das políticas do Governo muito mais plural. Essa pluralidade constituirá uma excelente barreira à instalação de todo o tipo de oligarquias e outros vícios menos bons que se criam com as maiorias absolutas prolongadas. Nesse aspeto, acho que os Açoreanos podem esperar uns Açores mais livres.

 

2 DI- Quais os sinais que se notam neste início de ciclo e que poderão tender a marcar a atual governação?

 

NB- Há ainda poucos sinais que se possam considerar como indicadores de um novo paradigma (palavra muito ao gosto de José Manuel Bolieiro) de governação. No entanto, seguindo o raciocino da resposta anterior, diria que há sinais de grande abertura à sociedade sem subserviência às grandes corporações. Acho esse processo de “desmame” muitíssimo importante. Na verdade, a democracia parlamentar, moderna, liberal e do direito, não é, nem deve ser, corporativa. As grandes associações empresariais também são corresponsáveis pelo estado miserável a que chegou a nossa economia ainda antes desta crise sanitária e social a ter afetado.

 

 

3DI - Quais os dossiês mais complexos, herdados ou emergentes, que exigirão do novo governo muita atenção e competência?

 

NB- Há um dossier que permanece por resolver desde há muito. O dos transportes. Somos uma Região Arquipelágica dispersa e periférica, com níveis de periferia interna inclusive, resolver os problemas dos transportes, marítimo e aéreo de passageiros e mercadorias, é o nosso grande desígnio para vencer a pobreza resiliente e crónica. Estamos longe de o resolver. Nesse particular o dossier SATA é o mais complicado e urgente de tratar e que carece de empenho, competência e, acima de tudo, verdade.

 

 

4DI - Dada a geometria da solução de governo e parlamentar encontrada, não serão necessários demasiados compromissos, ao ponto de a governação acabar por bloquear?

 

NB- Sem querer parecer um parafrasta, diria que, também aqui, a “politica é a arte do possível” como disse Bismarck. Não é fácil gerir questões de geografia, ideologia e de gênero num mesmo governo. A única forma de evitar bloqueios é fazer uma boa gestão das relações com o parlamento uma vez que, para questões de grande relevância carece do apoio parlamentar dos deputados de partidos que não estão no governo. Se por um lado o CHEGA assinou com a coligação um acordo que o transforma numa extensão dos grupos parlamentares que suportam o Governo, já os restantes, desde a aprovação do programa do Governo, estão de fora dessa equação. A próxima prova-de-fogo será a aprovação do plano e orçamento, lá para abril.

 

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