1 de setembro de 2018

Valha-nos Santa Bárbara!


Diz o Povo, este Povo ao qual me orgulho de pertencer e partilhar as vidas e as vivências, que “só se lembram de Santa Bárbara quando faz trovões”. É verdade! Por cá a nossa governança que, muitas vezes, mais parece desgovernaça e estar permanentemente num gabinete de comunicação e de propaganda em vez de estar a dirigir, gizar planos e formas de os executar, não age, apenas reage!
Reagir não é o mesmo que agir. E não é, de facto a melhor forma de governar. Mas reagir em quente a questões sérias, estruturais, vetustas, leva-nos a desacreditar mesmo aqueles em que, nalgum tempo, chegamos a depositar esperanças.
Faltou água. Rezaram, fizeram mesinhas e esperaram que se cumprisse o velho ditado do Abril águas mil, que no São João caem nevoeiros e chuviscos e que  o primeiro de agosto é o  primeiro de inverno. Nada! Na verdade não chove coisa digna desse nome, em algumas Ilhas, desde Março. Santa Maria enfrenta, neste momento, uma das maiores crises de água de que há memória. Anda a Câmara num esforço hercúleo a acartar água de reservatório em reservatório para que não falte nas torneiras das habitações, pneus e gasóleo com fartura.
Em São Miguel e Terceira a miséria está à vista de todos. Na Graciosa já se fala do assunto, que eu me lembre, vão para lá de 30 anos.
No mundo todo, pelo menos desde as primeiras pedradas atiradas ao charco por Al Gore, não se fala de outra coisa. Por cá, na imprensa regional, só eu já fiz publicar uns quantos textos sobre o assunto, até corri o risco de sugerir um plano e indicar lugares para possíveis mini açudes para retenção de água em ribeiras com caudal permanente. Especialista em generalidades, dizem eles. Os políticos devem ter achado esdruxula a ideia, os técnicos, que nunca se pronunciam publicamente, devem ter achado que eu tentava descobri a pólvora chinesa, mas sabem, todos eles, que tenho razão.
Só quando há secura é que a malta, lá no café e com a barriga encostada no balcão se lembra da água. Mas as secas serão cada vez mais prolongadas e cada vez mais frequentes e então a malta começa a reagir. E ai está um dos grandes problemas. A reação vem sempre com soluções fáceis, rápidas  mas nem sempre duradouras. O Sr. Secretário que tutela a Agricultura e que também tutela as florestas (outro assunto que um dia vai ser noticia pela negativa) vem agora dizer uma coisa extraordinária diz: “Estamos concentrados em encontrar pontos de abastecimento de água de ribeiras com caudal permanente, como é o caso da Ribeira da Alegria, na freguesia das Furnas, cujo caudal servirá para reforçar o abastecimento do complexo da Lagoa das Contendas”. Ou seja  é gastar o resto até à ultima gota e quem vier atrás que apague a luz e feche a porta.

Não faz falta captar e canalizar as ribeiras de caudal permanente, faz falta construir açudes e outras soluções de retenção de água a montante para alimentar os lençóis freáticos. Em lugar de promover o abate de matas regionais para vender ao preço da “uva mijoa” a alguns amigos do regime à sombra de encapotados concursos públicos e brincar ao desenvolvimento de biótipos e aos salvamento do Priolo,  o que faz falta é plantar mais criptoméria em altitude para captação da humidade e introdução dessa água nos solos  tal como os estudos publicados ainda recentemente por cientistas comprovam.
O que faz falta é agir em vez de reagir. O que faz falta é ir ao terreno trabalhar em vez de inaugurar.
Que a seca vos abrase essas cabeças que o fogo da vossa incompetência já nos abrasou a todos. 


São Lourenço, 31 de Agosto de 2018.

Sem comentários:

Arquivo do blogue