9 de outubro de 2015

Entre a Cruz e a Caldeirinha


Alguns analistas mais incautos caíram na tentação de interpretar as palavras de Cavaco Silva para Pedro Passos Coelho como uma espécie de favor ao líder do seu partido. Ao invés dessas mentes maldosas, pareceu-me claro o que Cavaco Silva exigiu a Passos Coelho mandatando-o para “iniciar diligências para procurar uma solução governativa que assegure a estabilidade política e a governabilidade do país”. Ora parece-me que não havendo uma maioria absoluta no parlamento o que Cavaco quis dizer com isso foi: procure o PS e entendam-se que eu quero uma solução de governo estável. O PS não percebeu o recado, ou não quis perceber, e abriu conversações com o PCP ainda antes de falar com Passos Coelho entrando numa espécie de jogo de poker em que ninguém tem uma boa mão e todos fazem bluff.
A enorme responsabilidade que o Partido Socialista tem como garante da estabilidade politica e da manutenção de Portugal na ordem internacional - Cavaco Silva também advertiu que essa solução governativa  “deverá dar aos portugueses garantias firmes de que respeitará os compromissos internacionais assumidos pelo Estado português” - é a única razão que justifica o facto de António Costa não se ter demitido, em coerência com o seu discurso passado, logo nas primeiras horas depois de confirmados os resultados eleitorais de 4 de outubro. Na verdade, cheguei a acreditar que estava perante um político com sentido de estado. No entanto, à primeira hipótese tratou imediatamente de agitar as águas e sentar-se à mesa de Jerónimo de Sousa que, não querendo nem por nada ser Governo se aprontou a encostar o PS às políticas de direita assim por ele denominadas.
Obviamente decorre da Constituição da República, se PSD e CDS não garantirem o apoio do PS Cavaco Silva não terá alternativa senão convidar o PS em conjunto com as restantes forças de esquerda, a procurarem uma segunda solução governativa.
Nessa altura veremos de que fibra é feita essa esquerda que até aqui tem defendido o rompimento de alguns compromissos internacionais. Convém sempre lembrar os mais esquecidos que o Mundo vive tempos atribulados a que Portugal não está alheio e que o Bloco de Esquerda e o  PCP defendem a saída de Portugal da OTAN, o regresso ao Escudo e até a saída da União Europeia, mesmo que para tal seja necessário romper o mais importante principio do Direito Internacional Publico de que os tratados são para se respeitar (pacta sunt servanda). Eles, no fundo, sabem que nada disso é possível de se operacionalizar, mas agitam as massas, felizmente umas massas feitas de tempera diferente da dos Gregos.
O Partido Socialista está refém da sua tática, ou se chega ao centro e corre o risco de perder o eleitorado de esquerda ou se chega à esquerda e perde todo o eleitorado do grande “centrão”.


Correio dos Açores , 9 de Outubro de 2015
Nuno Barata




1 comentário:

Eduarda Borba disse...
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